quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Da série: Cartas

Às vezes penso que pode me ver, saber o que ando fazendo, perceber se estou bem ou mal e o quanto mudei desses quase 2 anos pra cá.
Sabe, a Hello Kitty de pelúcia que você me deu num dos 5 dias dos namorados que passamos juntos ainda existe e está dentro do mesmo pacote, juntamente com nosso par de alianças de noivado em sua respectiva caixinha verde com o endereço da joalheria estampada por dentro, com seu óculos escuros Mormaii, também em sua respectiva caixinha preta, com seu par de luvas, com um guia de ruas de Buenos Aires, com cartões trocados em datas comemorativas e fotos, fotos, fotos... Este pacote de lembranças está bem amarrado no fundo do armário, bem escondido, escondido de mim, pois mesmo após esses quase 2 anos de separação, ainda dói em mim ver essas coisas.
Paradoxal eu esconder tudo isso, já que bem à mostra na minha gaveta têm 2 pijamas seus, que eu pedi pra sua mãe quando ela estava se desfazendo das suas coisas. Um é aquele azul claro de velho aposentado e pigarrento com blusa de decote em V com bolsinho. Tsc tsc tsc pra que pijama tem bolso? Deve ser pra guardar um lenço Presidente encardido ganhado da vizinha velha em dia de Natal.
Todas as vezes que olho esse pijama vejo você dentro dele todo descabelado, corado e com a cara amassada abrindo a porta do apartamento 33 B do Edifício Roberto em plenas 14 horas de um sábado nublado dizendo: "Uaaaaaaaaaaaaaaaaah, tava dormindo!"
Tem também aquele outro, aquele que você me emprestava pra eu não aparecer peladona na frente dos seus pais quando eu ia dormir aí sem avisar. Sabe aquele com uma bermuda azul marinho e uma regata branca com um 33 bem grandão estampado na frente? Pois é, é esse! Até hoje não descobri que raio de 33 é aquele e acho que você também não... é o número do seu apartamento estampado no pijama, só isso que sei até hoje.
Eu durmo com seus pijamas vezenquando pra fazer de conta que estou dormindo com você, pra lembrar dos quase 5 anos que passamos juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, pra acreditar que você está em algum lugar ainda que muito distante e que pode me ver e vibrar com as minhas conquistas, e principalmente pra não acreditar de jeito nenhum que você acabou juntamente com as cinzas do seu corpo cremado no Cementerio de la Chacarita enterradas num domingo de Páscoa no Parque das Bicicletas.

Post dedicado a meu noivo, que faleceu em decorrência de um trágico acidente no ano de 2006.
E sim, é verídico, também!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Se o mundo fosse bom...

seu dono morava nele.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Ah: fumarás de mais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permancerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele. "
Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Xiiiiii, a muleta quebrou!

Tenho pensado no quanto sirvo de muleta afetiva pras pessoas. É incrível a super cara de pau que os meus "amigos" têm de me procurar apenas quando precisam. Ser descartável me ofende e por isso resolvi quebrar a muleta! Andem manquitolado, caiam, fodam-se, mas não contem mais comigo!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Da série: Reflexões

Às vezes eu ainda penso no porque você me disse coisas tão lindas irresponsavelmente. Você conseguiu tocar minha alma na sua camada mais profunda, numa parte quase inatingível. O fato é que você jogou palavras ao vento e o vento trouxe aqui no fundo, no fundo, no fundo, no fundo, no fundo...
Consegui te manter em coma profundo por alguns dias e agora vem você querendo ressuscitar... tsc tsc tsc não pode, não posso permitir que você continue doendo em mim, não posso mais sentir desejo de tocar no apartamento 54 todas as vezes que passo em frente ao seu prédio no caminho de volta do meu curso. Não posso, não quero.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

As voltas que o mundo dá

Ela era magrela, as pernas dois cambitos. O cabelo era armado estilo Maria Bethânia e os cremes para pentear ainda não existiam na época. As sobrancelhas se assemelhavam a duas taturanas. Acima dos lábios, pêlos, que por puro eufemismo chamam de buço, mas que na verdade não é nada diferente de um bigode ralo. No rosto espinhas mil e sempre uma carranca. Nos dentes aparelhos ortodônticos fixos e no coração um vazio existencial.
Eram os tempos do colégio, da adolescência, da explosão hormonal e do despertar da sensualidade/sexualidade. Nesta fase da vida, todo mundo é meio feinho, mas dá-se um jeito aqui e outro ali e de feinha a pessoa passa a bonitinha. Só ela que continuava horrorosa e é claro que a carranca não ajudava. Ela não esboçava nenhum ar de simpatia e isso dificultava mais um pouco as coisas. Virou motivo de escárnio no colégio. Sempre que ela passava na hora do recreio um moleque, que de lindo não tinha nada, gritava: "Bigodudaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!" e todo mundo sabia pra quem a gozação era dirigida. Se fosse hoje, ela gritaria um: "Gorducho espinhudo" e logo acabaria com a alegria dele, mas na época ela era passiva demais, ficava triste com as chacotas e não se defendia. Nas aulas de educação física, a chacota era ainda maior. Como nunca soube jogar nada acabava sempre sendo a última a ser escolhida para o time, era a que sobrava.
Tinha uma coleguinha aqui e outra acolá, mas nada de amizades profundas. Chegou a comentar com uma delas sobre o vazio existencial. Pfff, a amiga era evangélica e a aconselhou a preencher esse vazio com Jesus. Mal sabia ela que esse vazio não acabaria nunca e sua amiga tinha menos conhecimento de causa ainda.
O vazio de vez em quando desaparece, cabe a ela encontrar formas de amenizá-lo, mas 100% não existe. Há quem se entorpeça pra se livrar do vazio. Cada um dá o jeito que pode, mas ela garante que Jesus não tampa vazio nenhum!
E assim era a vida dela naquela época. Ela tentava de todas as formas possíveis deixar o cabelo menos armado e o buço, aprendeu a tirar. O dia em que depilou o buço pela primeira vez chegou toda sorridente no colégio achando que seria bem vista, mas para a sua surpresa um magrelão alto lhe disse: "Até quem enfim você tirou o bigode, hein?" Deveria tê-lo chamado de tripa seca, mas como já disse ela era passiva!
Foi feia, isolada, deprimida e carrancuda até a formatura do 3º colegial. Já havia pedido pros pais para se mudar de colégio, mas esse era um colégio bom e era lá que ela deveria estudar e ponto final.
Depois da formatura foi como se tivesse ganhado uma carta de alforria. Sentia-se livre, virou a cinderela. Começou a alisar o cabelo, continuava depilando o buço e arrumando a sobrancelha e fazia tratamento para espinhas. Comparecia às festas do colégio só pra mostrar pra todo mundo que ela não era mais aquele patinho feio e sua presença, por incrível que pareça, levantava rumores e bochichos. Quem diria, hein?
Hoje, 12 anos depois, ela já não é mais magrela, tem um belo par de peitos e famosas ancas largas que lhe dão trabalho na hora de comprar calça. Seu cabelo parece liso natural e o mais importante de tudo, sabe impor respeito.
Ano passado foi à uma das festas do colégio depois de muito tempo sem aparecer e para sua surpresa viu homens e mulheres da mesma idade que ela, todos pelancudos, obesos. Alguns já com filhos e outros não, mas independente disso, a maioria estava mal cuidada com aquela pança saindo pela calça. Os homens estão até carecas! HAHAHAHAHAHAHAHA risadas sádicas! O escárnio agora parte dela! Lilica se sentiu vingada, pois não é mais a magrela de antes, mas também não está exageradamente pelancuda como eles e olhem que ela não fez nenhuma plástica ainda, hein? Se bobear elas aos 28 já fizeram inúmeras!
O vazio? Ah! O vazio continua lá, ainda que em menor proporção e freqüência, mas ela aprendeu a lidar com ele...

Já publiquei este texto num antigo blog que tive, mas resolvi postá-lo de novo com algumas alterações

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Tô começando a te achar ridídulo. Pior que dessa vez é de verdade. Acho que realmente estou conseguindo te matar...
E viva a cura do meu câncer!